Eu escrevo bem melhor em português. É um fato. Tenho mais prática, mais molejo. No mais, todos os meus amigos e leitores leem em português. Mas o Brasil tá uma bosta agora e eu realmente preciso:
ajudar minha esposa com o chefe calção de uma casa nova;
ajudá-la a comprar uma pia de cozinha;
trazer meus gatos do Brasil pra Alemanha.
E tudo isso em euro. Então acho que tá na hora de atingir um público maior. E essa é a outra coisa: eu não quero mais ser publicitária. Eu nunca quis. Na real eu até quis, mas faz tempo, na época que eu achava que era só isso que gente criativa podia fazer. Então é isso. Tô cansada de usar meu talento e habilidades pra vender as coisas dos outros e ser infeliz. Essa sou eu agora: vendendo minhas próprias coisas. In English.
Decidi migrar a newsletter pra uma plataforma mais profissional e vim aqui pro Substack. Também decidi abrir duas newsletters novas: uma mais geral em inglês (quase igual a essa) e outra de histórias curtas mensais — e vai ser paga. Acho que tô precisando me levar mais a sério.
Ano passado foi foda. Trabalhei muita num trampo corporativo que eu realmente gostava, mudei pra casa da minha mãe pra economizar dinheiro, me quebrar pra não quebrar minha família, resolvi um montão de burocracia, vendi quase tudo que eu tinha, me despedi dos meus gatos, pedi demissão do emprego que eu amava e imigrei pra um país onde eu achava que sabia falar a língua.
E essa foi só a primeira metade.
Tô aqui agora. Espalhando minhas raízes ancestrais Ídiche na terra de onde meus avós fugiram. Poética, né? Eu acho. Também pesa uma tonelada.
Imigrar é difícil. Me levou dois ou três meses pra descobrir como o sistema de correios funciona aqui. Pra descobrir que a internet alemã é toda uma merda. Pior que o do meu paísinho de terceiro mundo. Que os alemães amam telefone. Que a água tem um gosto estranho e dá diarréia. Que tudo é barato, mas não cabe no orçamento. Que café alemão só é bom com leite. Que dá pra viver com um salário mínimo. Que talvez você até consiga a carreira dos seus sonhos. Que tem mais gente que conseguiu e pessoais legais o suficiente que podem e vão te ajudar. Que você até curte o frio.
Está difícil, mas tenho me ocupado. Escrevi mais do que há muito tempo. Escrevi pra mim, escrevi em mídias e formatos novos. Entrei em novos grupos de escritores. Assinei um monte de newsletter que realmente me interessam. Li uns livros bons. Vi uns programas de TV que gostei muito. Aprendi a usar o Twine. Estudei um pouco de game design. Escrevi alguns jogos que não saíram ainda, mas outros que já. Dei uma sacudida nas coisas. Lembrei o que eu costumava gostar e quem eu realmente sou.
Essas são algumas das coisas nas quais trabalhei:
Em novembro escrevi uma crítica pra um livro que odiei (em português).
Em dezembro publiquei um ensaio sobre ser queer e aprender a andar de bike (em inglês). Até tentei vender, mas não rolou, então foda-se.
Durante o feriado lancei meu primeiro jogo narrativo! É sobre adotar um gatinho de rua e dar a melhor vida possível pra ele. (em inglês)
E, se você perdeu, meu primeiro conto em inglês foi publicado no The Cafe Irreal. Tô super orgulhosa disso.
Fiquem bem, gente. Se cuidem <3
Eu nunca lembro direito como chego nos lugares. Eu li o seu conto publicado (foi por ele que cheguei no The Cafe Irreal, isso eu lembro), mas como ele chegou em mim eu não lembro, não. Sei que registrei seu nome na memória, pra evitar de apagar a newsletter sem querer, achando que é mais uma daquelas que eu assino e nunca leio. Ainda bem. Li agora a critica pro livro que você odiou, e me aqueceu o coração. Alguma coisa em mim se diverte muito vendo pessoas premiadas sendo destruídas tão delicadamente por palavras gostosas colocadas na ordem certa. Espero que você ganhe mesmo muito dinheiro por saber ajeitar as palavras tão bem. Enfim, fiquei muito interessada pelo jogo, mas tive que comentar antes de dar uma olhada nele mesmo porque abri sua newsletter na hora que precisava jogar conversa fora com uma amiga, e senti que foi isso mesmo o que aconteceu. Obrigada.
Até mais e viel Glück.